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Seminários Saberes e Fazeres mostram práticas inovadoras em planejamento, avaliação, currículo e educação integral
Os Seminários Saberes e Fazeres, atividade que, em sua terceira edição, encerra o ano no Programa de Formação Continuada Territorial oferecido pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia, através do Instituto Anísio Teixeira, chegam ao seu quinto dia. Ao longo das apresentações, o trabalho desenvolvido nas redes municipais e estadual de educação vem sendo retratado através das apresentações dos educadores participantes: coordenadores pedagógicos, gestores escolares e técnicos tanto dos Núcleos Territoriais de Educação (NTE) quanto das secretarias municipais de educação de toda a Bahia.
A contribuição da formação continuada para o desenvolvimento do ensino e aprendizagem neste ano vem sendo ratificada em apresentações que versam sobre os principais temas tratados na trilha formativa e, especialmente, vivenciados na rotina escolar dos profissionais dos 417 municípios baianos.
Nesta quarta (24) e sexta (26), os educadores dos NTEs 1 (Irecê), 3 (Chapada Diamantina), 4 (Sisal), 8 (Itapetinga), 13 (Sertão Produtivo), 14 (Piemonte do Paraguaçu), 16 (Piemonte da Diamantina) e 17 (Semiárido Nordeste II) puderam expor práticas de referência adotadas pelas redes de ensino durante o desafiador 2021.
A importância do planejamento e seus desdobramentos, como o plano de ação da escola e o plano de suporte estratégico para a volta às aulas em regime híbrido ou presencial, temas bastante discutidos no processo formativo, tiveram destaque especial. O educador Damião Santana Cardoso, diretor do Colégio Estadual Professora Sílvia Ferreira de Brito, em Ribeira do Pombal, defendeu o planejamento como uma ação intrínseca à formação continuada que deve ser realizada em prol de uma gestão democrática. “Não consiste apenas em colocar objetivos e metas, mas em fazer um planejamento com apoio do NTE, dos formadores, articuladores. Dessa forma, a gente consegue identificar as nossas necessidades e o potencial de cada um enquanto gestor, coordenador, professor, aluno e líder de classe.”
Na Escola Municipal Pedro do Vale Irmão, em Santa Luz,a diretora Maria Gorete Ferreira Cunha também contou com a formação para a construção do seu plano de ação. Professora desde os 17 anos, é estreante na gestão escolar e se sentia perdida na criação de metas e estratégias. Na formação, que começou em 2021, entendeu que uma de suas maiores dificuldades era o desconhecimento da realidade dos seus estudantes. A partir daí, iniciou reuniões com a comunidade escolar para entender os problemas e poder, assim, definir metas concretas.
O compartilhamento de experiências com outros gestores e coordenadores foi crucial para a escolha de alguns caminhos, conta. E esses caminhos, agora bem desenhados, também estão sendo revistos, a cada momento: “É como na metáfora do gato de Alice (no País das Maravilhas, de Lewis Carroll): ‘Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve.’ O plano de ação é uma bússola na escola, tudo é organizado passo-a-passo. A gente vê resultado porque está a todo tempo revendo, observando o que ainda falta, o que não deu certo para replanejar e montar outra estratégia.”
Sobre o processo de formação em contexto profissional, reflete: “O conhecimento não pára no banco da faculdade ou quando a gente se gradua. Ninguém tinha estudado em universidade nenhuma como trabalhar num contexto pandêmico. Educação é isso: construção de conhecimento.”
Um outro instrumento de planejamento é a agenda do coordenador. Dentre as iniciativas retratadas, a agenda apresentada durante a trilha formativa foi elencada como uma das ferramentas mais importantes tanto para o corpo de gestão da escola quanto para os estudantes, já que uma melhor organização das demandas escolares consegue aliviar a sobrecarga dos educadores que, consequentemente, implementam mais ações de relevância na escola. Laudízia Maria de Araújo é coordenadora pedagógica na Escola Municipal de 1º Grau José Araújo Neto e conta: “Antes da formação continuada eu era uma apagadora de incêndios. Não parava um segundo e não fazia nada, porque era tudo desorganizado, bagunçado. A agenda do IAT foi uma luz na nossa vida, porque pudemos ter mais estudo, mais pesquisa.”
Sistemas inovadores de avaliação
Há alguns anos, a equipe da Escola Municipal Antônio Carlos Magalhães já vinha pensando em substituir as tradicionais notas das avaliações por um sistema de conceitos e pareceres. "Na formação do IAT, discutimos um texto que falava sobre as rubricas e foi aí que veio a mudança, uma ressignificação do nosso processo avaliativo".
Os professores passaram a se reunir para delinear as rubricas, com as expectativas específicas para determinada tarefa e a descrição dos diferentes níveis de desempenho. "Assim, o processo avaliativo deixou de ser pontual, para ser processual. O professor percebeu a necessidade de acompanhar a evolução do estudante, para dar respostas mais significativas".
Durante os conselhos de classe, os professores se reúnem para avaliar o progresso de aprendizagem de cada estudante e elaboram juntos um parecer que pode ser acessado pelos próprios estudantes e por suas famílias. "Esse processo trouxe uma mudança de paradigma. Como o parecer é feito coletivamente, a responsabilidade é dividida entre os educadores. E todos têm uma maior clareza a respeito do que foi trabalhado, quais aprendizagens foram alcançadas e o que ainda precisa ser revisto".
Em Lapão, uma outra cidade do mesmo território, a mudança na forma de monitorar as aprendizagens dos estudantes alcançou toda a rede de ensino. Durante o seminário, Ednólia Dourado, coordenadora na secretaria municipal de educação, apresentou outra iniciativa inovadora, o NAAMAE - Núcleo de Avaliação, Acompanhamento e Monitoramento da Aprendizagem Escolar.
O instrumento, que foi instituído por uma lei municipal, acompanha as aprendizagens de todos os estudantes do 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental com duas avaliações realizadas no início e no fim do ano letivo. Assim, é possível ter acesso aos dados gerais da cidade, mas também aos dados por escola, por turma e por descritor.
O núcleo que Ednólia coordena é responsável por interpretar os dados extraídos das provas. Eles são discutidos em encontros mensais com coordenadores pedagógicos e professores e servem de base para definição de temas que serão trabalhados nos cursos de formação continuada. Os gestores de cada escola também podem acompanhar os resultados por meio de uma plataforma. "A avaliação não é para punir, fiscalizar. É para conhecer, mediar, intervir no processo, para provar essa rede e para sermos provocados. Nosso objetivo principal é estimular a autonomia docente e fortalecer os processos de qualificação".
Flexibilização Curricular
Um outro tema bastante discutido ao longo do ano nos encontros formativos foi a flexibilização curricular. No seminário da tarde desta quarta (24/11), as coordenadoras pedagógicas Lorena Lima e Geisabel Costa mostraram as mudanças no currículo da rede municipal de ensino de Mirangaba, onde trabalham, realizadas a partir da formação continuada. "Começamos a discutir o que era prioritário para nossos estudantes nesse momento de pandemia, o que eles de fato precisavam aprender, e aí resolvemos revisitar o currículo, de acordo com o que vimos na formação do IAT", disse Lorena.
A primeira ação da dupla foi reunir os professores da cidade que atuam no Ensino Fundamental II. "A gente quis fazer o contrário do que normalmente é feito. O planejamento foi de baixo pra cima, começando pelo chão da sala de aula", contou Geisabel. Divididos por área do conhecimento, os professores escolheram juntos quais eixos temáticos iriam trabalhar e quais seriam as habilidades prioritárias. Todos tinham uma missão em comum: estabelecer uma conexão com a leitura nos mais diversos conteúdos abordados.
Num vídeo, o professor de matemática Anaelton Farias falou sobre como foi participar desse processo. "Nós discutimos juntos, cada professor fez as suas análises. O planejamento em rede é o melhor caminho. Se os professores trabalham dessa maneira, há uma meta comum, todos trilham o mesmo caminho. Foi algo que enriqueceu muito a minha prática pedagógica. Antes, a gente discutia como ensinar, e agora a gente discute como que o aluno aprende".
A pouco mais de 100 km dali, em uma rede de ensino onde o trabalho é multidisciplinar e cheio de interseções, Pabulo Figueiredo, diretor escolar e professor de matemática no município de Morro do Chapéu, também relatou como o trabalho organizado e planejado pôs em prática os estudos sobre a leitura em todas as áreas do conhecimento. O trabalho com as sequências numéricas agregou conhecimentos e estratégias dos alunos no saber matemático, mas com discussões que permeiam outras áreas, especialmente a de língua portuguesa. “Trouxemos a tertúlia dialógica matemática, uma novidade. A gente traz livros, ou textos como uma receita, por exemplo, que possam vincular a leitura à matemática, fazendo contextualização dos conteúdos. Isso tornou a matemática mais apreciada pelos nossos alunos e a leitura aos poucos foi sendo entrelaçada em todas as disciplinas”, conta.
Educação Integral
O seminário da manhã desta sexta (26), que reuniu educadores do NTE 8 e 13, teve como destaque a Educação Integral, outro tema que mobilizou os participantes da formação continuada neste ano. Andréia Silva, coordenadora técnica pedagógica na secretaria de educação de Itororó, contou como os encontros formativos fortaleceram as políticas de educação integral no município. “As atividades na plataforma foram muito satisfatórias, como o diagnóstico de como andava a educação integral no nosso município. Depois, nós começamos a fazer reuniões com os gestores e coordenadores pedagógicos para trabalhar isso, com uma gestão democrática”.
A gestora escolar Sandra Helena mostrou, por sua vez, detalhou como uma escola de tempo integral funciona na prática. Ela dirige o Centro Educacional Monteiro Lobato, em Firmino Alves, e falou sobre alguns princípios que norteiam as atividades da escola, como o foco na pesquisa (há uma disciplina voltada à iniciação científica), o fomento às linguagens artísticas, a relevância do território educador e o protagonismo da juventude. “A gente oferece oportunidades para que os jovens desenvolvam suas potencialidades para além do muro da escola e assim vimos nascer uma escola viva”.
Em um dos projetos desenvolvidos na escola, os estudantes construíram projetos para apresentar na Câmara de Vereadores da cidade. Um deles acabou aprovado e encaminhado à prefeitura, realizando o desejo de uma estudante que sonhava em ver mais parques infantis espalhados pelo município.
A potência das práticas desenvolvidas ali já se traduz em números. A escola aumentou consideravelmente o desempenho no IDEB e viu crescer o número de estudantes que ingressaram em universidades. Uma estudante que já havia ganhado algumas vezes o troféu destaque, promovido pela escola, está cursando veterinária em uma universidade federal e ainda viu o pai, vaqueiro, voltar a estudar no mesmo colégio, para realizar o mesmo sonho.
Confira a agenda dos Seminários Territoriais Saberes e Fazeres (youtube.com/InstitutoAnísioTeixeiraIAT):
29/11 - 9 às 12h - Recôncavo (NTE 21) e Litoral Sul (NTE 05)
29/11 - 14 às 17h - Vale do Jiquiriça (NTE 09) e Bacia do Paramirim (NTE 12)
01/12 - 9 às 12h - Sertão do São Francisco (NTE 10) e Itaparica (NTE 24)
01/12 - 14 às 17h - Metropolitana de Salvador (NTE 26)
03/12 - 14 às 17h - Formadores IAT/SEC-BA
Sobre o Plano de Formação Continuada Territorial
A Secretaria da Educação do Estado da Bahia, por meio do Instituto Anísio Teixeira realiza a Formação Continuada para Gestores Escolares, Coordenadores Pedagógicos das redes municipais e Estadual, além das Equipes Técnicas das Secretarias Municipais de Educação e dos Núcleos Territoriais de Educação (NTE). A ação, que conta com o apoio da União dos Municípios da Bahia (UPB), da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME) e parceria do Itaú Social, tem foco nos profissionais que atuam nos períodos do 6º ao 9º ano e no Ensino Médio. Por conta da pandemia do Coronavírus, a formação acontece em ambiente virtual, reunindo mais de 8 mil educadores e técnicos de 417 municípios dos 27 Territórios de Identidade da Bahia.
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