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Inspirada na mãe professora de Jaguarari abraça a profissão e revela encanto pelo magistério
Marieta não pôde concluir os estudos. Seu pai, José Lino, conhecido como Sr. Caboclo, tinha ciúmes das oito filhas e, com medo de que elas
escrevessem cartas para os possíveis namorados, sempre foi duro e pagou um professor particular para ser o responsável por apenas alfabetizar as crianças. Nascida no povoado de Lagoa Grande, Marieta, na companhia dos 14 irmãos, cresceu no cenário da caatinga, porém o clima seco e árido suscitou feito uma leve brisa noturna a sua curiosidade, que a fez mergulhar no mundo da literatura, dos jornais e das revistas. Marieta ficou adulta, casou-se com Tarcísio, foi morar em Jaguarari e virou mãe da menina Maria Celeste, que, sabendo da história da mãe, decidiu expandir ao máximo seus horizontes, enfrentando desafios e dificuldades para se tornar uma professora.
Seus pais não seguiram o padrão adquirido no passado e priorizaram a educação. “Tive uma infância boa. Apesar do meu pai e da minha mãe terem pouca instrução, eles investiram bastante no meu aprendizado e me apaixonei pela escola. Nas horas vagas, meu pai, que era dono de uma vendinha, me dava a tarefa de colocar os preços nas mercadorias e isso deixava minha professora Edna e ele super orgulhosos, porque eu fazia tudo direitinho”, lembra Maria Celeste.
Brincalhona, porém tímida, a garota concluiu o curso de magistério na antiga CNEC – Campanha Nacional de Escolas da Comunidade; cursou História, na Universidade de Pernambuco; e Artes Visuais, na Universidade do Estado da Bahia. “Lembro-me que refletia sobre a história da minha mãe e imaginava como deveria ser querer estudar e meu avô não permitir, por ignorância própria da época. Admiro bastante como ela conseguiu se transformar em uma mulher guerreira, sábia e amante dos livros. Devo a minha mãe a inspiração por me transformar em uma professora”.
Com 48 anos, a “Lelete” ou “Celestinha”, como é conhecida carinhosamente pelos alunos, é professora da rede estadual desde 1994 e atua no Colégio Estadual Walter Brandão, como professora de História; articuladora da área de Humanas; e coordenadora do projeto "Despertando vocação", que auxilia os jovens na escolha dos cursos de nível superior. “Educar é um ato de amor que transforma vidas. Sou tímida, porém na sala de aula pulo, danço e faço de tudo para contextualizar o conteúdo e acompanhar cada estudante de perto na sua singularidade”.
Para o ex-aluno Lucas Barbosa, 26 anos, que hoje é professor de Biologia, o contato com a professora foi fundamental para a escolha da profissão e seu crescimento como humano. “Fui aluno dela do Fundamental II até o Ensino Médio. A Lelete sempre foi uma pessoa atenciosa e acolhedora com os alunos. Sonhava em entrar na universidade, mas a minha mãe acreditava que não era possível, devido a nossa condição social e por morarmos na zona rural. No entanto, minha professora nunca desistiu de mim, ela estimulava e aproveitava as vezes que encontrava com a minha mãe para conversar sobre o meu potencial e possibilidades. Resultado: finalizei o Ensino Médio, fiz vestibular para Biologia e liguei para a Lelete para contar. Jamais esquecerei a emoção daquele momento. Hoje, como professor, carrego dela o interesse de enxergar o potencial dos meus alunos e motivá-los, mesmo diante dos obstáculos”.
O enfermeiro Ruan Carlos, de 26 anos, é outro ex-estudante que se recorda com carinho de uma época em que vivenciava o afeto e dedicação da professora. “Celeste é uma professora autêntica, parceira e presente, que nunca poupou esforços para ajudar as pessoas. Tem uma luz que faz a pessoa querer ser amigo dela. Nossa ligação é bem forte e sou muito grato por todo apoio e palavra de conforto que recebi”. Para a ex-aluna Regiane Pereira da Silva, de 28 anos, “existem pessoas que encontramos na vida que permanecem para sempre. Celeste é a minha inspiração. Não há palavras que possam descrever o quanto ela me cativou e motivou durante todo aquele tempo. A sua paixão pela História é avassaladora e linda de se ver. O contato com ela foi fundamental para que concluísse meus estudos”.
Reportagem: Pedro Moraes
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