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Equipes técnicas das secretarias de educação discutem potencialidades e desafios da Educação Integral
Para muita gente, Educação Integral se resume a aumentar a carga horária dos estudantes. Mas as discussões em torno do tema vão muito além disso. As equipes técnicas das secretarias de educação de 414 municípios baianos puderam aprofundar as reflexões sobre as potencialidades e desafios da Educação Integral durante os encontros deste mês do Plano de Formação Continuada Territorial, promovido pela Secretaria da Educação do Estado da Bahia, por meio do Instituto Anísio Teixeira (IAT).
Neste sentido, "nem sempre a escola em tempo integral tem a concepção de Educação Integral", como lembrou a assessora pedagógica Jueliza Marques, que trabalha na secretaria de Guaratinga. "O ideal é ter essa junção entre a jornada ampliada e a concepção de trabalhar todas as dimensões do aluno", ressaltou.
Um outro encontro, no dia 17/6, desta vez no NTE 4 (Alagoinhas - Sisal), contou com a presença da educadora Jaqueline Moll, uma das referências no Brasil sobre o tema. O convite partiu do técnico-administrativo Ednilson Silva, que trabalha na secretaria de Queimadas. Ednilson é membro do Comitê Territorial Baiano de Educação Integral, do qual Jaqueline é madrinha. Assim que tomou conhecimento da pauta do encontro formativo, Ednilson fez questão de mandar uma mensagem para ela. "Ela aceitou participar na hora. É muito bom ter contato com o autor que a gente está estudando. Dá uma carga de energia muito grande. Principalmente para falar de um tema tão importante como a Educação Integral, que, do meu ponto de vista, é a bola da vez. A gente precisa formar um indivíduo não só pelo viés conteudista, mas para interagir de modo mais amplo com a sociedade. Aprender sobre dança, música, artes… Depois ele vai devolver tudo isso".
Ednilson participa do Plano de Formação Continuada desde o comecinho, em 2019, e conta que as reuniões formativas têm tido um grande impacto no seu trabalho. "Especialmente agora, com a pandemia, ninguém tinha uma receita, um norte de como trabalhar. A formação do IAT contribuiu muito, especialmente com o plano de suporte estratégico. As secretarias começaram a planejar melhor como iriam direcionar o ensino nesse novo momento. O mais interessante é que esses planos não foram engavetados. Estão sendo revisitados para que a gente possa analisar as experiências e nos planejarmos novamente, para ver como vamos agir a partir do que não deu certo".
Martonio Sacramento, formador da turma de Ednilson, conta que essa tem sido a "experiência profissional mais enriquecedora" dos seus quase 30 anos de educação pública. "Estou aprendendo muito. Nós precisamos estar sempre lendo, conhecendo referenciais teóricos, pensadores, cientistas… Tem sido desafiador. Amadureci muito profissionalmente com este trabalho, com os desafios e com a convivência com os técnicos e educadores".
“É imprescindível um novo olhar para o trabalho pedagógico, que vislumbre possibilidades educativas que tragam a vida sociocultural para o interior do processo de ensino e aprendizagem" - Cristiane de Almeida Moreira - Educadora do NTE22
Desta vez, com o tema da Educação Integral, não foi diferente. Ele pôde conhecer mais profundamente os estudos de pesquisadores, entre eles os de Jaqueline Moll, e conta que quase "desmaiou" quando foi surpreendido pela presença da educadora na reunião. "Fomos pegos no susto. Ela é o maior expoente no Brasil quando se trata dessa temática. Ela ficou encantada com a proposta do Plano de Formação e muito feliz de ver que a bandeira da Educação Integral está sendo levantada. A gente sabe da importância de avançar tanto na discussão teórica quanto na operacionalização do ensino integral. Foi um encontro extremamente valioso, que despertou muitas reflexões. Saí nas nuvens com as contribuições e as narrativas apresentadas".
Território e Currículo
Em outro encontro ocorrido, também no dia 16/6, envolvendo os NTEs 15 (Ipirá - Bacia do Jacuípe), 22 (Jequié - Médio Rio de Contas) e 26 (Salvador - Metropolitano de Salvador), a formadora Camila Amorim provocou os educadores a pensar nas formas efetivas de fazer com que a questão da identidade e territorialidade passem a fazer parte da prática pedagógica. Como os demais formadores, explorou também os conceitos da Educação Integral e discutiu alguns pontos que possibilitam a inclusão da integralidade e multidimensionalidade na rotina escolar. Para Camila, “a escola complementa a comunidade na qual está inserida, tal qual a comunidade complementa a escola''.
Andreina Santana, presente ao encontro mediado por Camila, trouxe a experiência da construção da territorialidade vinculada ao sentimento de pertencimento: “Trabalho no município de São Francisco do Conde há 27 anos. Trabalho com meu estudante na proposta de entender o lugar de onde ele vem, que é oriundo da área de pesca, de marisqueiros. Precisamos construir com ele aquilo que pertence a ele. Este estudante tem que ser entendido como cidadão daquela comunidade.”
Em Salvador, Andreina atua na comunidade de Vista Alegre. Ela conta que as questões identitárias já são pauta para o trabalho pedagógico. “Uma das coisas que consegui construir com eles nesta pandemia foi exatamente questões de territorialidade: o que ele constrói ali e no que o entorno influencia na sua vida, seja no pessoal, local, social, emocional ou nas questões econômicas. Isso representa a noção de como o território faz o indivíduo.”
Segundo a formadora Camila, o norte para esta integralização passa essencialmente pela revisão curricular, em como os referenciais teóricos da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) influenciam as propostas municipais, os PPPs (projetos político-pedagógicos) das escolas e as práticas dos professores. “Não é um trabalho simples, fácil. A perspectiva de formação do sujeito como um todo não faz parte da nossa formação, mas é algo que a gente tem que instituir culturalmente na educação do Estado da Bahia”, defende.
No entanto, a formadora completa que o que está nos documentos oficiais deve chegar às práticas, mas sem deixar de lado as características inerentes à quem está desenvolvendo o trabalho. “O currículo pode ser inovador ou engessado, enraizado. Como construir autonomia passando pelo currículo, sem ser ofuscados pelos padrões pré-estabelecidos? O grande lance é como o que está no documento chega a estas práticas.”
A resposta vem a partir do compartilhamento de experiências e saberes na própria reunião. Olhar para o trabalho pedagógico a partir da formação foi o fator escolhido pela educadora técnica do NTE 22 Cristiane de Almeida Moreira como impulsionador de novas práticas. “É imprescindível um novo olhar para o trabalho pedagógico, que vislumbre possibilidades educativas que tragam a vida sociocultural para o interior do processo de ensino e aprendizagem. É por meio da formação continuada que poderemos promover uma mudança significativa nas práticas pedagógicas.”
A pedagoga Ivina Bitencourt Meira é coordenadora técnica pedagógica no município de Boa Nova (NTE 22) e conta que a formação vem contribuindo para o desenvolvimento de discussões e projetos que tratam da Educação Integral. “Demos ênfase nesse diálogo com os coordenadores, a partir da formação”. Ela, que também é formada em Ciências Sociais, atua há aproximadamente 8 anos na secretaria, onde pôde participar de diversas iniciativas que trouxeram a identidade e a territorialidade para o cerne das discussões. “Bebemos nessa fonte de ver o sujeito em suas amplas possibilidades”.
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