Da roça para a sala de aula em Santa Maria da Vitória a professora Vanda revela seu amor pela Educação

A Educação sempre foi um motivo de emoções, lutas e superação para Vandelucia Boa Sorte ou pró Vanda, como é conhecida a professora do Centro Territorial de Educação Profissional da Bacia do Rio Corrente (CETEP), em Santa Maria da Vitória, no Oeste da Bahia. Ainda criança, a menina filha de agricultores morava na comunidade do Muzelo, município de Candiba, no semiárido baiano. Estudar não era fácil, o clima forte atrapalhava, a distância da escola, também. Porém, ela se recorda que as dificuldades eram sempre tratadas com serenidade pelo pai Valdemar, que dizia: “estudar será o seu maior legado”.

A pró Vanda conta que, mesmo com ventos fortes e uma poeira seca, que parecia não ter fim, o pai dela acordava todos os dias antes das 5h, pegava seu cavalo, o mesmo que o ajudava nas atividades rurais, e colocava na garupa as duas filhas, Vandelucia e Eliene. Todos com sono após o rápido café, despertavam com a água gelada ao banhar o rosto e seguiam para a escola Dom José Pedro Costa, na sede do município.

Vanda, já adolescente, se envolveu nos movimentos sociais e nas lutas estudantis. Na Igreja Católica, participou de um projeto chamado Movimento Educação de Base (MEB), que era um grupo de alfabetização de adultos e idosos. A jovem voluntária teve o avô, o senhor Leopoldo, de 70 anos, como aluno. “Ele tinha o sonho de escrever seu nome”, disse Vanda. Realizar este feito a motivou e, ao lado do avô, se esforçou neste desafio. “Lembro do rostinho dele quando conseguiu escrever o nome. Foi uma expressão linda! Sabe quando um homem do campo te olha orgulhoso por uma boa colheita? Ver a felicidade dele me deu a certeza de que ensinar era o que queria para a minha vida”, recorda, com emoção, a professora.

Vanda, então, decidiu fazer licenciatura em Letras, na Universidade Estadual da Bahia (UNEB), no campus de Caetité. Formada há 18 anos, atua desde 2013 como professora do Estado. A adolescente que ensinou o avô a ler tem, hoje, 40 anos, é casada, mãe de três filhos e sente o olhar do vô Leopoldo se renovar a cada dia nos estudantes. “Sou apaixonada pela Educação Profissional na Bahia, principalmente por sua intervenção social. O que mais me move é perceber que estou contribuindo com meus alunos para que eles, além de conquistarem uma formação técnica, desenvolvam um olhar crítico, sensível e disposto a transformar diversas realidades”.
 

A estudante do curso de técnico em Administração, Dágila Silva Medeiros, de 15 anos, fala sobre a admiração pela professora. “Pró Vanda é uma pessoa incrível, que se doa aos alunos. Ela mostra que está preocupada, conversa, aconselha e manda mensagem perguntando individualmente como estamos e isso nos faz sentir acolhidos. Além de professora, ela é uma amiga presente na vida de todos nós”.
 
Na quarentena, ao lado dos professores e amigos Vanesca, Juliana, Caliane, Cleber e Daniel, desenvolveu um projeto chamado "Plano emergencial de apoio às empresas impactadas pela COVID-19", mesmo sem contar como atividade letiva. Com o projeto, os estudantes, distribuídos em grupos de trabalho, escolheram algum segmento na cidade, como hotelaria e alimentação, para elaborar planos de redução de impactos, baseados em conceitos ligados à gestão de pessoas, logística, administração financeira, sistemas e marketing. Em setembro, os estudantes participaram com os professores de encontros virtuais para sanar dúvidas e receber materiais de apoio. Após a conclusão, os projetos serão encaminhados para a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), de Santa Maria da Vitória, e para o Colegiado Territorial.

A professora Vanesca Lima, que coordenou o projeto, conta que a iniciativa foi um sucesso. “Os estudantes deram show de protagonismo, propondo soluções e estratégias para os problemas locais. O resultado foi proveitoso para todos nós e sentimos que a proposta das atividades interdisciplinares, nos ajudou a relacionar as diversas áreas do conhecimento, trilhando novas metodologias de ensino e caminhos na educação. Neste processo, a professora Vanda, que é articuladora territorial, foi uma peça fundamental, nos apoiando com o desenvolvimento do plano, correção dos trabalhos e agregando valor ao trabalho, com o seu olhar rico, atento e amplo”.

Reportagem: Pedro Moraes

 

 

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