Formação Continuada: como vivenciar o afeto na educação pós-pandemia?

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Pandemia, distanciamento social, solidão, medo, mudança abrupta de rotina. Bastam poucas palavras para definir o atual momento mundial. Dentro desse turbilhão, estão os profissionais que trabalham diariamente para formar as “cabeças pensantes” dos próximos tempos. E essas cabeças não se resumem em si, trazem junto corações pulsantes vibrando no saber e no sabor, gritando alegrias e agruras, vivendo entre autonomia e dependência e, sobretudo, desejando mais que conhecimento, afeto. A comunidade escolar fervilha desde sempre, são muitos desafios, muitas conquistas e quando se fala em educação pública no Brasil, o melhor é sacar a lupa e entender como professores, coordenadores, gestores escolares e todos os profissionais envolvidos, juntos, aprendem a transformar realidades.

Nos encontros da Formação Continuada Territorial, promovidos pela Secretaria da Educação do Estado da Bahia (SEC), por meio do Instituto Anísio Teixeira (IAT), os educadores participantes têm tido um papel fundamental no desenho da nova situação escolar pós-pandemia. Entre protocolos de higienização, escolha de equipamentos de proteção individual, reformas de espaços físicos, reorganização temporal e as novas possibilidades de ensino, um aspecto menos prático vêm ganhando espaço nas discussões. Afinal, e a dimensão pessoal?

 

Os questionamentos que envolvem o retorno às aulas presenciais pedem novas práticas pedagógicas para, futuramente, receber os seres para os quais toda reestruturação terá sido pensada. Estarão sedentos de contato, de coletividade e de calor humano. No “novo anormal” como a formadora Líbia Gertrudes, em encontro formativo do NTE 19 – Portal do Sertão, chamou os tempos que virão, será necessário levar em conta que esta geração guardará para sempre a marca deste momento histórico.

 

Novas práticas comportamentais do professor, do gestor, do funcionário, que sirvam de exemplo aos estudantes em suas novas regras de conduta, terão que ser percebidas. Mais ainda, será necessário encontrar meios para permear tudo isso de afeto.

No encontro de formação do NTE 20 – Sudoeste Baiano, ocorrido em 28 de julho, a coordenadora pedagógica Valéria Novais (Mirante), dividiu com o grupo suas preocupações: “qual o interesse que o estudante terá de ir à escola? Como será sem a interação? O que fazer para tornar a escola atraente para este educando?”. Ela entende como crucial o combate à evasão escolar, temida entre os possíveis cenários pós-pandêmicos. “Teremos que lidar com o impulso da afetividade, sem tornar a escola um lugar frio, gelado”, completa o coordenador pedagógico atuante no município de Maetinga, Cesar Roberto Dias Damasceno, presente à mesma reunião.

 

“A educação é um encontro humano”. As palavras do educador português Antônio Nóvoa, em vídeo feito especialmente para as atividades no ambiente virtual, em que se desenvolvem as discussões da Formação Continuada, surgem e ressurgem em diversos momentos, norteando a visão que trata como essencial a manutenção do vínculo entre o corpo docente e o discente. Tanto para manter vivo o sentimento de pertencimento durante o confinamento, quanto para nortear as decisões para a volta às aulas presenciais, quando for possível.

 

“O direcionamento da SEC, através da formação, é essencial. É o espaço para pensar o momento em curso" - Cesar Roberto Dias Damasceno

 

Dentro do painel de desafios que está sendo desenvolvido nos espaços formativos, “a parte estrutural está bem pensada, mas são pessoas que voltam, ainda mais sedentas do contato, das atividades coletivas”, defende a formadora Eleuza Diana Tavares, NTE 20, que completa: “O momento emergencial pede novas práticas, mas a partir do princípio norteador: como fazer com que as atividades que circulam afetos retornem?”.

 

Acreditando no encurtamento das distâncias – embora sem saber como – a coordenadora pedagógica do município de Mirante, Fabiula Matias acrescenta que os professores, coordenadores e gestores precisam estar preparados. Para ela, o suporte aos profissionais também é necessário. O colega Cesar Roberto Dias Damasceno ratifica: “O direcionamento da SEC, através da formação, é essencial. É o espaço para pensar o momento em curso. O que vier para a formação será o que estivermos vivendo nas escolas”.

No NTE 8 – Médio Sudoeste da Bahia – em encontro de formação ocorrido em 29 de julho, a dimensão humana também esteve em pauta. A coordenadora pedagógica do Colégio Anísio Teixeira, em Potiraguá, Jaira Couto, conta que com a formação, o “avizinhamento” está se estabelecendo e o compartilhamento de saberes e experiências que advêm disso tem feito a diferença, especialmente no que tange a esse “novo fazer pedagógico, ainda mais humano”.

Eram seis turmas, três formadores presentes e entre narrativas e desafios, o questionamento de Cristina Santos “quem iremos tocar neste retorno?” foi como uma síntese. Não literal, a sutileza desse toque será responsável por preencher de humanidade e afeto a tão discutida reinvenção da normalidade.

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